domingo, janeiro 15, 2006

San Juan até Uyuni caminho incerto

Em San Juan tem telefone, um museu com algumas mumias, e muitas lhamas. É uma cidade simpática, mas passamos o dia cuidando da Nave, troca de filtro de ar e limpeza geral, checar o óleo, abastecer. A melhor decisão que tive foi colocar o tanque extra de combustível, foi uma preocupação a menos em todo o caminho. a pior foi não colocar o snorkel.
A chuva continuou e agora chegava a hora de decidir qual caminho tomar, contornar o salar e correr o risco de ficar atolado, ou seguir os Toyota Land Cruiser dos bolivianos pelo salar por 5horas com 20 centimetros de água salgada e correr o risco do sal parar o motor da Nave. Ouvimos várias opiniões, não sairíamos sem considerar tudo. Ficamos mais uma noite esperando que a chuva passasse. Isso não aconteceu e eu passei a noite em claro ouvindo a chuva, preocupado, culpado por ter trazido meu pai para uma loucura destas, talvez fosse melhor ter vindo sozinho. Eu tenho que decidir, e se alguma coisa der errado a culpa vai ser minha. Acho que nunca passei por tanta pressão assim.
Acordei, digo, levantei as 6 da manha, fui pra rua, a chuva diminuiu, Max e um casal de alemães, que havia ficado preso no salar com um caminhão 4x4 de 8 toneladas, discutiam qual a melhor saída dali. Max afirmava que o salar era a melhor saída, um outro boliviano com um Mistusbishi 4x4, dizia que nunca mais passaria pelo salar com chuva era muito perigoso. Nós e os alemães ficamos no meio da discusão sem saber o que fazer. As 7 da manha, decidimos ir pelo salar, tinhamos que preparar tudo muito rápido para seguir os guias que saíriam em 1 hora. Protegemos o motor com uma lona para que não entrasse sal. Tomamos café e um morador da cidade veio pedir carona. Ele era guia, infelizmente não lembramos o nome dele, mas foi um anjo que nos deu mais tranquilidade para enfrentar o salar até Uyuni.


Tudo pronto, eu entro na Nave e falo comigo mesmo: - Vamos lá, a gente vai conseguir! Procuro parecer confiante, mesmo que esteja morrendo de medo do que vem pela frente. Seguimos, até entrarno salar temos que passar por um trecho de terra e logo no primeiro quilômetro vemos um ônibus que ficou atolado durante a noite quando a fazia o mesmo caminho que nós. Os primeiros atoleiros vão aparecendo, e a cada um tento me concentrar mais na estrada. Ao mesmo tempo, checo as luzes no painel, busco a marcha correta, não posso acelerar muito nem pouco, procuro por um lugar mais sólido, tento evitar as pedras. Respirar agora é o menos importante. O sol começa a aparecer, mas as chuvas da noite anterior foram fortes e tudo está enxarcado. Os primeiros 4x4 bolivianos já estavam muito a frente eu tenho que alcançá-los, mas o caminho é difícil a velocidade não passa de 30km por hora. Após uma hora e meia de lama, avistamos a entrada para o salar na ponta da península, e mais a frente os Land Cruiser com turistas se preparando para entrar na água. Agora ao menos podemos segui-los dentro do salar, onde não existe estrada.

O nosso guia nos ajuda a arrumar o carro, alguns galhos servem para protejer o radiador e a lona proteje o motor, o pai arrumou uma maneira de protejer um pouco a entrada de ar. Os motoristas bolivianos conversam sobre qual melhor caminho, como se houvesse estradas demarcadas naquele branco absurdo. Agora é pra valer, tomei folego como se não fosse mais respirar pelos proximos 180 km. Os Land Cruiser começam a submergir, fico olhando e esperando pela minha vez. Vejo os carros afundando cada um dos 20 centimetros de profundida no salar, pensando quanta água a Nave teria que enfrentar. A minha vez chega, nosso guia continua falando palavras de incentivo e garantindo que tudo vai terminar bem. A Nave entra na água com tração reduzida e diferencial bloqueado, segunda marcha e rotação acima de 2mil rpm a 15km por hora. Agora não há volta, a água salgada espirrada já cobre a Nave. Para mim os primeiros minutos na água parecem horas.

As luzes de advertencia estão acesas, espero que seja defeito no painel apenas. Busco a trilha deixada pelos Toyota que seguem dez metros a minha frente. Tento seguir exatamente cada marca de pneu que se pode ver através da água transparente com medo de sair da trilha e cair em algum burado. Trinta minutos depois, o carro a frente pára, fico na dúvida se é algum problema com o carro ou se a água está muito alta. Nada disso, apenas uma parada para que os turistas tirassem fotos. Por um segundo desconfiei, mas aí me dei conta que estávamos no meio do salar, um lugar inacreditável. O sol estava forte. A sensação é de que estavamos no meio do mar, andando sobre a água. Tiramos os sapatos, saímos do carro, tiramos fotos e rimos dos turistas argentinos.

Voltamos ao carro, o caminho ainda era longo, iríamos até a ilha dos Pescadores e depois para Uyuni, é o caminho mais longo, mas pelo menos estaríamos na rota turística. Manter o carro a 20km por hora durante 2 horas não é fácil, mas depois de um tempo me acostumei. Apenas o parabrisa me incomodava com o sal que se acumulava, mas Uma vantagem da Defender é poder dirigir com a cabeça pra fora sem muita dificuldade.

Chegamos a Ilha do Pescador, um monte no meio do salar, cheio de cactus. Almoçamos e depois de uma hora de descanso voltamos a estrada, ou melhor, ao salar. Agora são mais três horas até Cochana perto de Uyuni, um dos poucos pontos do salar onde se pode sair tranquilamente. No salar existem portos onde se pode passar a faixa de terra fofa que o contorna, tentar passar por qualquer outro lugar é muito perigoso.
Da ilha não se pode ver terra firme do outro lado, apenas algumas outras ilhas dentro do salar, mas os guias sabem a direção a tomar. Agora já estamos mais tranquilos, vemos dezenas de carros cruzando o salar, é uma visão maluca, parece que estamos velejando no meio do mar. Uma hora e meia depois vemos o "continente" e uma montanha serve como guia para chegarmos ao porto de Cochana.

Ao mesmo tempo vemos nuvens pesadas se formando, o tensão começa a voltar. Se a chuva for muito forte nas motanhas a água corre toda para o salar aumentando a profundidade. Acelero um pouco, mas não quero deixar os outos carros para trás, eles são nossa segurança. Duas horas e meia depois, finalmente vemos o hotel de sal, já estamos perto de terra firme, paramos rapidamente, com o olho nas nuvens que já começaram a despejar água nas montanhas. Mais meia hora de salar e chegamos em terra, uma estrada de rípio meio enlameada nos leva a Uyuni. Finalmente respiro normalmente! A Nave voou, ou melhor flutuou pelo salar e chegamos sãos e salvos a Uyuni.

3 Comments:

At 4:04 PM, Anonymous Anônimo said...

Cara, vc ficou EXACTAMENTE nos mesmos lugares que eu fiquei. Bem, devem ser os unicos por ai. Aventura das boas, hein? A estrada Uyuni-Potosi e louca. Nao deixe de visitar as minas. Potosi foi uma das cinco maiores cidades do mundo em 1600 e la vai quebrada. Metade da prata do mundo veio dai.

 
At 10:21 PM, Blogger Paulo Henrique said...

do-ca-ra-lho!! um dia vou junto contigo, pra vc não ficar com tanto pesar de ter levado o teu pai :)
que inveja! mas, vem cá, o que vem a ser este salar? o que tem debaixo da água que o carro não atola?

 
At 5:33 PM, Anonymous Anônimo said...

Que coisa maneira, maluco!!!!
Um dia tenho que fazer uma dessas!

 

Postar um comentário

<< Home