As oito estavamos prontos e novamente seguimos os 4x4 dos bolivianos, mas fomos parando pelo caminho, tirando fotos e gravando. Passamos pela tal árvore de pedra (meio caída por sinal) e uma das guias bolivianas perguntou se queríamos seguí-los porque o caminho seria difícil dali pra frente. Bom, falámos que sim e fomos atrás do Toyota Land Cruiser 1980, aparentemente o único carro recomendado para o transporte de turistas aqui na região. Passamos por mais umas lagoas, mais alguns flamingos e algumas pedras, visual bonito, mas batido por aqui. Ao meio dia paramos na Lagoa Hedionda (Stinking Lake, em inglês) onde os 4x4 bolivianos se juntavam para o almoço, como não estávamos com fome seguimos sem os guias, nosso primeiro erro. "Es mui peligroso alla, mejor esperarem" dissa a guia boliviana. "Encontramos vocês mais ali a frente dissemos nós". O caminho que até aqui era tranquilo começou a se complicar, caminhos de pedra que seguim pra todos os lados apareciam a todo momento. Vimos um dos Toyota Land Cruiser e resolvemos seguí-lo.
Mais a frente nosso segundo erro, estávamos em uma estrada razoavelmente boa e o carro que seguíamos entrou em uma Lagoa, decidi continuar na estrada. O GPS sem um mapa detalhado não adianta muito e fomos seguindo um mapa da Bolivia que compramos. A estrada era bom, a direção do GPs não parecia a mesma que o mapa indicava, mas a lógica era: "se esta é uma boa estrada deve levar a algum lugar bom", ledo engano. Chegamos a fronteira com o Chile, fim da estrada em um terminal de trem de cargas. Bom, nada terrível até aí, pedimos informação e nos disseram para seguir a linha do trem até Chaguana e de lá até San Juan, beleza. Acontece que a linha do trem atravessa um pequeno salar com muita lama. Passando pelos atoleiros e sem ter muita certeza de onde estávamos, derepente surge uma construção ao lado dos trilhos, paramos para pedir mais informações, da casinha saem correndo três adolescentes com uniformes desbotados. Nesse momento pensamos em tudo, bando de guerrilheiro, seita religiosa, assaltantes de trem... Na verdade eram militares bolivianos num posto de controle de fronteira. "Donde van, tiene que registrarse, tiene que registrarse!", ficamos meio assustados e logo apelamos para o famoso "somos brasileiros" como se isso resolvesse tudo, na verdade resolveu. Os caras viram as camêras e assumiram que erámos periodistas passeando pela bolívia.
Seguímos caminho em meio ao salar, mas os atoleiros começaram a ficar mais pesados, e vimos ao longe o que parecia ser uma estrada na beira da motanha. Tração ligada, bloqueio do diferencial, e reduzida, a Nave começa a criar uma nova estrada pelo meio do salar, nada a segura. Alcançamos a tal e estrada apenas com uma luz de advertência acesa no painel, "aquecimento da transmissao". Paramos um pouco pra esfriar a Nave e finalmente apareceu um ser vivo, uma motinho 350 de 1900 aparentemente, nela um senhor que resolvemos chamar de senhor Miagui, ou Yoda se preferirem. Ele para a moto com certa dificuldade e nos informa que estamos no caminho certo para San Juan, era só seguir aquela estrada e virar a direita mais a frente. "Solo no entren en el salar esta muy dificil" Beleza, agora que tu avisa Miagui!
Mais tranqüilos seguimos, o senhor Miagui desaparece na nossa frente. Mas a tal saída pela direita não aparece, chegamos em um pueblo pedimos mais informações e um garoto reafirma a indicação do senhor miagui. Maravilha! Mais 40 minutos e estariamos em San Juan. Chegamos a beira do salar, a esquerda lá longe vemos uma cidade a direita só lama. hummm!! Terceiro erro, não acreditar no Senhor Miagui e virar a esquerda. Depois de uma hora beirando o salar por uma estrada cheia de lama, chegamos... em San Pedro.
Eram quatro horas e decidimos tentar San Juan que estava mais perto do caminho ao salar. Pelas informações mais recentes eram apenas 45 minutos, voltando por onde viemos. Tá bom, vamos lá! No horizonte começa a se formar o que seria nosso maior problema, nuvens pesadas começam a cobrir as montanhas onde estaria San Juan. Mas tudo certo,"são só 45 minutos, a chuva não pode piorar muito neste tempo", mais um erro, por aqui a chuva pode piorar tudo muito rapidamente. A estrada começa a parecer mais enlameada, mas a Nave segue com tranquilidade. No caminho, uma picape 1950 (acho que todos os carros por aqui são de 1950 mais ou menos ) toda remendada, esta atolada com três bolivianos que serviriam muito bem para um filme sobre prevenção bucalZ: "Nao masque folha de coca e escove seus dentes ou você vai ficar assim!"
Tá a chuva está ali se aproximando, mas vamos ajudá-los, afinal "a gente semu tudo gente boa". Vinte minutos depois... pé na estrada porque a chuva ali já parece uma tempestade. A lama começa a aumentar, pequenos rios começam a cortar a estrada a cor do céu já está assustando. A Nave volta a trabalhar, tração reduzida, bloqueio do diferencial, e vamo embora. Primeiro rio beleza, segundo a correnteza está maior, mas não podemos parar. Vai Nave! E ela vai, terceiro rio e a àgua cobre a Nave, a tomada de ar fica encharcada, e por um momento Ela rateia, mas com fé passamos mais um, chegamos ao alto de um morro, onde estamos mais seguros, mas a visão a nossa frente assusta mais ainda. Toda a estrada parece um rio que só aumenta com a chuva. E nem sinal de San Juan. Lá fora neve começa a se formar. Resolvemos para num lugar mais alto e esperar a chuva parar.
A chuva diminu e fizemos uma segunda tentativa. A estrada esta cortada, mas o rio diminuiu. A Nave acelera e força passagem, inclinada a uns 30 graus ela pára e não consegue seguir. Voltamos para o ponto mais alto, mais meia hora e a chuva diminui. Terceira tentativa, agora temos que passar, se a chuva voltar vamos ter que dormir ali no meio do nada com um frio desgraçada.
Pegamos a pá e buscamos um novo caminho contornando o bloqueio. Passamos! Chegamos a um outro morro, e depois da curva... Puta que o pariu!! Agora toda a estrada é um rio. A Nave está exausta, a luz da transmissao e da temperatura do óleo estão acesas. "Vamos lá, temos que continuar, não podemos ficar aqui parados". Nos primeiros metros, uma surpresa uma marca de pneu de moto, recente, com certeza feita depois da chuva. "Deve ser o senhor Miagui, vamos seguí-la." A marca da moto parece levar para o nada, mas pelo menos é melhor que o rio (a estrada). A Nave segue firme, quicando pra todo lado criando uma nova estrada. As marcas da moto desaparecem, voltamos para a estrada e devagar atravessamos todos os rios, mas nada de San Juan.
A chuva começa a aumentar e o medo toma conta de nós novamente. Então, lá no meio do nada, aparece uma luzinha fraca se aproximando. Seguimos em direção a luz, "É uma moto, parece o Senhor Miagui. Está parando... - Ola como esta? - Senhor por favor donde está San Juan?" O senhor é Maximo, dono de uma pousada em San Juan, e nos aponta a cidade que agora com um pouco menos de nuvens começa a aparecer. Vinte minutos depois estávamos em um quarto enorme, com chuveiro e água quente e o jantar é uma sopa deliciosa feita pela senhora Izidria, mulher de Máximo. Finalmente descanso, pelo menos até amanhã.